História da Semana
Presente das bodas de prata
Certa vez um casal muito pobre e sem filhos.
Ela
fiava à porta da sua cabana pensando no marido. Toda a riqueza que ela possuía
era uma bela cabeleira, gabada e invejada pelas mulheres da aldeia. Uma
cabeleira negra, comprida, brilhante que brotava da sua cabeça como os fios de
linho da sua roca.
Ele
ia ao mercado vender algumas frutas. Sentava-se à sombra de uma árvore a
esperar, firmando entre os dentes o seu cachimbo vazio. O dinheiro não lhe
chegava para uma pequena porção de tabaco.
Aproximavam-se os 25 anos do seu casamento. Em anos anteriores, nessa data,
nunca tinham oferecido nada um ao outro porque a pobreza não lhes permitia esse
luxo.
Mas
agora tinha mesmo de ser. Vinte e cinco anos é uma data marcante que é preciso
comemorar. Assim pensavam os dois em segredo sem falarem um ao outro sobre o
assunto. Era preciso fazer uma surpresa.
Uma
ideia cruzou a mente da esposa. Sentiu um calafrio de alegria e tristeza ao
pensar nela mas era a única maneira de conseguir algum dinheiro: venderia a sua
cabeleira para comprar tabaco para o seu marido. Seria a melhor prenda que lhe
podia dar. Ela imaginava-o já na praça, sentado atrás dos seus frutos, puxando
longas cachimbadas e o fumo e evolar-se como aroma de incenso e jasmim a
dar-lhe o prestígio e a solenidade de um grande comerciante.
Só
obteve pelo seu belo cabelo umas poucas moedas. Mas escolheu com cuidado o mais
fino estojo de tabaco. O perfume das folhas enrugadas compensava largamente o
sacrifício do seu cabelo.
Ao
cair da tarde regressou o marido. Vinha cantando pelo caminho.
Trazia na sua mão um pequeno embrulho: eram alguns pentes para a sua mulher.
Para obter dinheiro para os comprar tinha vendido o seu cachimbo…
Tradução
livre de um poema de Tagore, in Almanaque Boa Nova 2008