Bem Vindo ao Blog!

Bem Vindo ao Blog!
Vamos respirar arte e filosofia.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

HISTÓRIA DA SEMANA - Governar a si mesmo


Era uma vez uma rainha cujo marido morreu. Como seu filho, o príncipe, tinha somente cinco anos, ela foi nomeada regente do reino até que o futuro rei completasse dezoito anos e fosse, então, capaz de governar.
O único defeito da rainha era amar demais o filho e, por isso, permitir-lhe fazer tudo que desejasse. Assim, apesar de ser uma boa monarca, criava, a cada dia, uma criança mais e mais teimosa e cheia de caprichos.
Um dia, a rainha chamou o grão-vizir e pediu-lhe:
- Diga-me francamente o que fazer com meu filho. Ele é insolente, orgulhoso e difícil de controlar. Como corrigir seus defeitos, antes que seja demasiadamente tarde?
O grão-vizir respondeu:

-Coloque o príncipe aos cuidados de um mestre, assim ele poderá adquirir sabedoria.
- E onde há um mestre que possa ajudar meu filho? – perguntou a rainha

Nesse momento, encontra-se na cidade um velho homem sábio que mora nas montanhas. Falarei com ele e direi que o príncipe necessita de seus ensinamentos. Talvez ele queira vir.
- Traga-o imediatamente, se puder – disse a arainha.

Não demorou a que o grão-vizir retornasse com o mestre, que tomou o príncipe sob seus cuidados.
Todos os dias o ancião e o menino sentavam-se para ler e estudar.
O mestre discorria sobre as maravilhas do mundo, da ciência exata da álgebra entre tantos outros assuntos.
Todas as semanas a rainha mandava buscar o mestre e lhe perguntava:
- Como está progredindo meu filho?

O mestre sacudia desanimadamente a cabeça e retirava-se.
Um dia, a rainha perguntou-lhe mais uma vez:

-Meu filho agora está progredindo, mestre?

Ele ainda não aprendeu que um príncipe deve ser humilde, que um rei é um servidor de seu povo e que não existe poder a não ser em Deus. E o que podemos fazer? – indagou a rainha.

- Majestade, deixe-o viajar comigo – propôs o mestre.

A proximidade com a natureza talvez ajude a modificar-lhe o caráter.
A rainha concordou, e os dois partiram vestido com roupas simples como as que usam os andarilhos.
No final do primeiro dia de viagem, quando se sentaram ao lado de um pequeno fogo para preparar o café, dois pássaros apareceram como do nada, pousaram sobre o alforje do ancião e começaram a gorjear.
-Há muitos anos aprendi a linguagem dos pássaros – disse o mestre. – Mas agora me arrependo de tê-lo feito.
- Por quê? O que diziam esses pássaros daqui? – perguntou o príncipe.
A princípio, o mestre não quis revelar ao príncipe o que os pássaros haviam dito, mas o menino insistiu tanto que, afinal, ele falou:
- O primeiro pássaro disse que, no tempo em que você for rei, haverá grande regozijo entre os pássaros que se alimentam de frutas, pois os jardins e os hortos serão abandonados, pois todo o pouco destas terras terá partido e ninguém os incomodará. Ninguém os incomodará, porque todo o povo destas terras terá partido. Ninguém quererá viver sob um reinado tão impopular.
- E o que disse o outro pássaro? Pergunto o príncipe.
- O segundo pássaro disse que ele também ficará contente no seu reinado, uma vez que haverá muitos gafanhotos quando eles vierem.

No dia seguinte, chegaram a um oásis, onde havia camelos bebendo água. Quando os viajantes pegaram o seu cantil, os camelos começaram a fazer ruídos, como que a resmungar. O ancião sorriu ao escutá-los.

- O que estão a dizer os camelos? – indagou o príncipe.

A princípio, o mestre não quis responder, porém o príncipe insistiu até conseguir que o sábio falasse:
- Eles estão se queixando porque, quando você for rei, haverá tanta gente aqui dando de beber aos animais e preparando-se para abandonar o país e viver em outro lugar, que será muito difícil que possam beber neste oásis – disse o mestre.

O príncipe e o mestre seguiram viajando por mais alguns dias, até que se detiveram ao pé de uma montanha muito alta, onde, sobre uma ponta rochosa, avistava-se um ninho de águia.
Ao se aproximaram, ouviram a águia piando para os filhotes. O ancião traduziu:

- Ela está dizendo a seus jovens filhos que, quando ficarem adultos e você estiver no trono, deverão caçar ovelhas nos reinos vizinhos, pois as daqui estarão magras e fracas. Cobras e lagartixas tomarão sol nas ruínas da capital, e a grande mesquita estará vazia, quando você for rei.

O mestre parou de falar, mas o príncipe implorou:
- Por fazer, diga-me o que a águia falou.
-Ela disse que, se você corrigir a sua conduta agora e melhorar dia a dia, então, seu nome será querido e seu reino, imenso e feliz.
O príncipe nada respondeu, mas o mestre notou que ele refletia sobre tudo que ocorrera.

- Voltemos agora ao palácio para continuar os estudos? – pediu o mestre.

O príncipe concordou. Regressaram pelo mesmo caminho, e o mestre se alegrava em ver como seu aluno se mostrava, cada dia, mais amável e reflexivo. Finalmente, o príncipe parecia ter compreendido o que significavam as suas lições e, de fato, se esforçava por aprender.

O mestre foi ter com a rainha:
- Já posso partir, pois o príncipe está se preparando para se transformar em rei. Será um bom soberano, pois agora sabe que, antes de poder governar os outros, deve ser capaz de governar a si mesmo.

Encantada, a rainha ofereceu-lhe um posto na corte, o qual ele recusou.
-Não. Tenho que continuar meu caminho, tenho ainda muito trabalho a fazer.

Quando chegou o tempo de se tornar rei, o príncipe recordou as muitas lições que seu mestre lhe ensinara e governou bem e sabiamente até o fim de sua vida.


Prof. Wanice Facure


Retirado do livro : As mais belas parábolas de todos os tempos Vol II. Organização Alexandre Rangel. Editora Leitura.

Nenhum comentário:

Postar um comentário